Antes de soltar o primeiro post sobre minha experiência na Dinamarca, vou contar um pouquinho da minha história! Dia desses uma leitora querida perguntou como eu larguei a arquitetura pra estar aqui e, não coincidentemente, na imersão dos Global Shapers CWB o querido amigo Tanaka fez uma atividade com a gente muito legal, e nela tínhamos que responder pra um outro alguém a seguinte pergunta: “qual a sua trajetória até aqui?” E essa pergunta ecoou em mim por vários dias de uma forma muito bonita, que vou contar aqui pra vocês 🙂

Vocês todos que me leem sempre sabem alguns dos meus trejeitos, manias e gostos, mas agora vão saber de uma forma bem pessoal quem tá por trás de todo trabalho desenvolvido aqui. E tô fazendo isso porque, depois dessa viagem, tenho certeza que quem vai voltar pro Brasil será uma nova Gabi. Com outros sonhos, com uma bagagem enorme de novos conhecimentos e uma nova visão da vida. Então vamos lá:

Eu sou a Gabi, prazer 🙂 Nasci numa cidade pequena no sul de Minas Gerais chamada Pouso Alegre. Minha mãe me teve quando tinha 17 anos, e isso fez com que a gente fosse criada mais como amigas do que como mãe e filha.
Cresci na casa da minha vó e do meu vô, e sempre chamei tanto ela quanto ele de mãe e pai. Como todos os meus tios ainda moravam com com meus avós, a vida era divertida, e me acho muito sortuda porque, com uma família tão grande, eu acabei tendo vários pais e mães enquanto pequena ♥

Tive a oportunidade de ver o pão crescer no sol, colher cenouras da horta pra fazer bolo, e aprender táticas infalíveis pra fazer a coxinha ficar bonitinha 😂 Sempre fui bem agitada, criativa e adorava brincadeiras perigosas. Acho que eu gostava de desafios! Nunca gostei de mentiras, de falsidade, odiava quando minha mãe não chegava em casa a tempo de me levar na aula quando saía a noite, e detestava brigas, apesar de ter crescido numa família bem conflituosa.

Quando tinha uns 7 anos decidi que queria mudar o mundo. Todos os moradores de rua, velhinhos no asilo, animaizinhos abandonados, crianças passando fome, isso cortava meu coração, eu não conseguia entender o por que disso tudo, então perguntei pra minha mãe quem eu tinha que ser pra mudar tudo isso. Ela, confusa e na sua inocência de tentar dar uma resposta simples a uma pergunta tão complexa – pra uma criança – me respondeu que eu deveria ser presidente, e assim uma semente foi plantada. Uma semente que, mal sabia eu, continuaria sendo alimentada e crescendo comigo todos os dias!

Ali pelos 9 comecei a entender que meus pais eram, na verdade, meus avós, e faltava um personagem na minha história. Foi então que minha mãe resolveu contar ao meu pai que eu existia. O resultado do exame de DNA saiu no dia do meu aniversário de 11 anos – eu tinha ganhado um pai de presente 🙂 As coisas não foram como a minha cabeça tinha fantasiado durante meses a fio e a rejeição dele reverbera até hoje em muitas das minhas crenças e atitudes. (Mas tá tudo bem 🙂 )

Tive uma adolescência esquisita, claro que complexa como toda adolescência, mas aos 13 anos fui morar sozinha com a minha mãe e seu namorado (atual marido), era estranho ter que obedecer ordens de “uma irmã”. Ela sempre foi muito dura comigo, se eu tirava 9,5 na escola, perguntava por que não tinha tirado 10, se tirasse 10, não tinha feito mais que minha obrigação. Ela dizia sempre que eu podia ser o que eu quisesse da minha vida, mas que eu fosse a melhor naquilo que escolhesse, senão nunca teria uma realidade diferente da nossa família. Isso marcou muito!

A espiritualidade entrou cedo na minha vida – lá pelos 10 anos – através de amigos e da minha tia que frequentava um centro kardecista aos fins de semana e me levava juntos, bons tempos! Me sentia pura luz dentro daquele lugar. Foi lá que aprendi o quanto eu tenho responsabilidade pelas minhas atitudes e escolhas, e que sou só eu que vou moldar meu futuro e o mundo em que eu quero viver. Também foi nessa época que ouvi pela primeira vez sobre vegetarianismo e energia e quando fiz meus primeiros trabalhos voluntários.

Aos 15 encontrei no orkut uma mulher que tinha o mesmo sobrenome que eu no orkut e mandei uma mensagem. Descobri que ela era minha tia e acabei conhecendo toda minha família paterna através dela, que sempre lutou muito por mim!

Aos 16 vi minha mãe abrir um restaurante e convivi com uma chef de cozinha formada na França, foi quando aprendi algumas técnicas e receitas com um sabor que eu nunca tinha experimentado na vida. Me apaixonei e quis cursar gastronomia. Minha mãe não permitiu e acabei escolhendo cursar arquitetura por influência do meu primeiro namoradinho. Também via na arquitetura uma forma de ser um pouco presidente, de trabalhar com habitação social e mudar vidas através de um lar – não demorou muito pra eu ver que tinha escolhido o caminho errado. As matérias de decoração e design não me preenchiam. Continuei levando e, mesmo assim, me dedicava pra estar sempre entre as melhores notas – além das ordens da minha mãe de ser sempre a melhor naquilo que escolhesse fazer, minha vontade era também que meu pai me notasse! Falhei muitas vezes em tentar chamar a atenção dele, falhei por falta de instrução pela negligência dele e pela falta de instrução da minha mãe, que cresceu em uma família muito simples e não tinha conhecimento sobre muitas das coisas que eu vivia na época pra me ajudar. Vida que segue…

Não posso reclamar quanto aos meus estudos, pelo menos nisso meu pai acabou ajudando muito e tive a oportunidade de morar um ano na Itália depois de passar pelo processo seletivo do intercâmbio – graças às boas notas. A Itália me mudou! Parei de comer carne, vi o mundo de longe, enxerguei que ele era muito grande, e tinha muita coisa pra conhecer, aprendi a respeitar diferenças, aprendi a confiar em estranhos por mera intuição, vivenciei como era ser adulta pela primeira vez ao ter que lidar sozinha com as mais diversas situações, estive cara a cara com a morte quando tive uma infecção grave no rim e não entendia uma palavra do que os médicos falavam, vi que o meu nível de ótimo estava beeeem longe do que era ótimo na Itália – eles eram muito exigentes na faculdade, e isso me deixava louca e me encantava! Aprendi a criar minhas próprias oportunidades e fui a única da turma a fazer estágio durante o intercâmbio. Conheci o amor da minha vida – um brasileiro, veja bem. Hahaha Aprendi tantas coisas que poderia passar o dia contando aqui, mas vamos pro próximo capítulo.

Voltei, peguei o orientador mais porreta da faculdade e pedi que ele fosse duro comigo porque eu não aceitaria tirar uma nota menor que 10 no meu TCC. Assim foi! Um trabalho que, só 2 anos depois, eu percebi que não era de arquitetura, mas também de psicologia, sustentabilidade, desenho urbano, requalificação, agricultura urbana, fortalecimento de comunidade, entre outras coisas. Indicado à prêmio nacional e tudo, afinal eu tinha que ser boa o bastante, né?

Me formei e me mudei pra Curitiba em busca de 2 coisas. Vivenciar minha história de amor e trabalhar com urbanismo – eu finalmente tinha descoberto o que movimentava meu coração! Jan Gehl tem grande parte de culpa nisso hahaha Um ano e meio no mercado de trabalho foram suficientes pra me dar um banho de realidade e o mundo acabou me dando um empurrão: a empresa que eu trabalhava (como urbanista) fechou. Foram meses de muito aprendizado, conciliados com voluntariado no Teto, mas pela primeira vez eu não queria ir pra lugar nenhum, queria andar com meus próprios pés! A essa altura eu já tinha tido um blog de receitas (cozinhar sempre foi uma forma de demonstrar amor pra mim, e pensando bem acho que isso veio da minha vó já que ela sempre cozinhou pra gente e eu amava muito ela – e ela, a mim 🙂 ) mas tinha desistido. Quando saí do escritório resolvi retomar o blog e pegar projetos arquitetônicos como autônoma!

Toda essa mudança e instabilidade, aliados ao fato de estar numa cidade tão longe, com um clima horrível e pessoas muito diferentes me fizeram entrar em depressão. Acho que todos os questionamentos, inseguranças e sofrimentos que minha história de vida marcaram em mim resolveram vir a tona agora que eu precisava de autoconfiança (já contei um pouco dessa trajetória nesse post aqui). Blog caminhando bem, projetos arquitetônicos me deixando cada vez menos motivadas, chegou o momento de decidir em qual colocar toda minha energia. Escolhi aquele que me dava prazer e que colocava todo amor e paixão ao fazer – o blog – mas ainda não sentia que estava cumprindo com meu propósito de mudar mundo/ajudar as pessoas.

Quando minha psicóloga me encaminhou pra um psiquiatra, me neguei e fui pra MG, tive contato com as minhas raízes de novo, me desliguei de tudo e tentei curar algumas feridas. Pela primeira vez vivenciei o amor da minha mãe, como mãe mesmo. Recebi o apoio e o colo da minha família e amigos de infância como jamais imaginava. Me curei e decidi que, daquela dia em diante, eu ia deixar todo medo de me machucar de lado e ia abrir meu coração pro mundo. Nasceu o GoodTruck!! ♥ (leia mais aqui) Em poucos meses minha psicóloga me disse que eu poderia visitá-la a cada 15 dias e não mais toda semana, como antes. E a vida começou a fluir…

Procurei outras formas de tratamento como Constelação Familiar, Pranic Healing, Reiki, Deeksha, Recalibração Interdimensional, Apometria, e posso dizer que cada uma delas teve um papel importante no meu processo de autoconhecimento.
Desde então tenho caminhado alinhada com meu propósito – ou pelo menos tentado -, tenho deixado as feridas sararem, me orgulhando das cicatrizes, tenho colocado o meu amor pra fora, mesmo quando não há garantia de retorno e abrindo o coração mesmo que faça doer às vezes. Tenho tentado entender que tudo tem sua razão pra acontecer e que é preciso agradecer muito por cada oportunidade de crescimento, mas agradecer de verdade! Tenho me concentrado bastante em não gastar minha energia com coisas/pessoas/situações que não fazem sentido, e tentado focar minha energia em realizar meus sonhos, por que só eu sou responsável por eles.

Entendi que meritocracia não existe da forma que dizem, e que quem não nasceu com muitas oportunidades tem que ralar pra cacete pra construí-las, mas no fim elas valem cada gotinha de suor!
Entendi que eu não preciso ser a melhor pra impressionar ou ganhar a atenção de ninguém, eu sou única pro mundo e continuar caminhando e honrando meus valores já é o bastante.
Entendi que apesar das partes ruins e doloridas, minha história me fizeram ser quem eu sou, e modéstia à parte, eu tenho muito orgulho de quem tenho me tornado!

Mas a coisa mais maravilhosa que eu experienciei nos últimos tempos, sendo muito sincera, foi o amor de vocês! O carinho quando descobrimos o câncer da minha mãe, a alegria quando conquisto algo legal, o feedback quando gostam de alguma receita, a confiança quando me enviam alguma pergunta. Vocês me fizeram perceber que eu posso ser exatamente quem eu sou, com todas as minhas ideias malucas e valores tão “meus”, e tá tudo bem, desde que tenha amor, desde que traga serenidade, desde que o que eu esteja fazendo seja pra um bem pra além de mim, pro mundo, pra vocês, pelo próximo. Graças à minha história de vida e ao apoio de vocês eu tô aqui, no meu caminho pra realizar um dos maiores sonhos da minha vida junto à 999 pessoas sensacionais e à ONU: mudar o mundo!!!

Tô escrevendo isso durante o voo e nesse exato momento acabo de pousar em Paris, daqui sigo pra Copenhagen e a aventura começa!
Já chorei com lembranças, já ri à toa, já agradeci a Deus pela oportunidade e perguntei se eu mereço mesmo tudo isso. Independente das respostas que nunca virão, eu tenho um amor tão grande dentro do coração, e mais nenhum medo de colocá-lo pra fora, então espero escrever um texto sensacional na volta, com uma linda história de uma Gabi que se reinventou na Itália, passou por um intenso processo de autoconhecimento em Curitiba e agora volta “encontrada” da Dinamarca.

Vocês são maravilhosos! Obrigada por tudo! Eu amo muito vocês ♥🙏🏼

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