Vocês pediram tanto lá no instagram, que resolvi fazer um post mais completinho com nosso roteiro pelos arredores de Porto, em Portugal. Viajar para o exterior depois de quase 2 anos vivendo uma realidade tão restrita foi quase um sonho. E o mais engraçado é que eu nunca tive uma super vontade de conhecer Portugal – tanto que só passei 2 dias em Lisboa em 2019 quando fui dar uma palestra num evento por lá. Eu achava que era meio “carinha de Brasil”, mas acabei me surpreendendo e me apaixonando.
No primeiro dia fizemos um passeio noturno pelo centro histórico, pela orla do rio, e para comer bacalhau, obviamente. Já cheguei avacalhando com a alimentação, mas confesso que já passei por momentos de tanta restrição que, hoje, não me privo quando viajo. Prefiro deixar para “correr atrás do prejuízo” depois, do que deixar de desfrutar de um momento de exceção com prazer e liberdade. Já no primeiro dia comemos bolinho de bacalhau na Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau, acompanhado de um bom vinho do Porto; pastel de nata da Manteigaria (simplesmente incrível! O melhor que comemos durante a viagem. #dicaflordesal de amiga: peça quentinho); e depois jantamos um Bacalhau a Braga (frito com molho de cebolas – achei uma receita dele aqui) na Taberna Santo Antonio que estava super saboroso.
PASSEIO PELO VALE DO DOURO
No dia seguinte meu namorado alugou uma moto e saímos para viajar pelo Vale do Douro com minha cunhada e o marido dela. Esse percurso me deixou completamente sem fôlego! Simplesmente APAIXONADA por cada paisagem. Eu nunca tinha feito um percurso tão longo de moto, mas foi super tranquilo. Ele alugou a BMW GS 1200 – eu não entendo muito de moto (apesar de adorar) mas eu até pedi pra ele me dizer qual foi o modelo que ele alugou pra deixar como dica pra vocês porque achei super confortável. Saímos de Porto perto das 11 da manhã e paramos para almoçar no Restaurante e Taberna Fininha, com vista para o Rio Douro. Comi um dos melhores polvos da minha vida ali. De entrada pedimos alheira – tipo uma “linguiça” de aves bem saborosa. A sobremesa foi Natas do Céu – bem o tipo de doce que eu gosto – leve na boca, não tem muito açúcar, meio untuoso (amanteigado), uma delícia!
Seguimos viagem e paramos em alguns pontos para apreciar a paisagem, tirar fotos, e esticar as pernas um pouquinho. Então fomos conhecer a Quinta de Santa Eufemia ao fim do dia para fazer uma visita guiada à vinícola e degustar alguns vinhos produzidos por eles. Pedimos uma degustação com 6 tipos de vinhos do Porto – o Rosé, o branco, o Ruby, o LBV, o Tawny 10 anos, e um outro que já não me lembro (meu preferido foi o Tawny 10 anos). Também experimentamos um azeite orgânico que eles produzem lá, incrível! Me arrependi de não ter trazido um pra mim.
Pegamos a estrada no pôr do sol e foi um dos momentos mais especiais da viagem. Foi lindo ver o sol se pondo na orla do Douro, com um monte de videiras e oliveiras ao redor, e depois subir o vale com aquela vista foi surreal (deixei os vídeos nos destaques do instagram AQUI). Dormimos numa cidade pequenina chamada Tabuaço. Estávamos bem cansados e acabamos comendo num restaurante bem pertinho do Hotel chamado Tachinho da Té – Pedi salmão e estava muito saboroso. O restante do pessoal pediu Bacalhau, um peixe que já nem me lembro o nome, e Costela – e também gostaram muito.
Uma curiosidade: quase todos os pratos que comemos vinham acompanhados desses verdinhos, chamados Grelos, que são uma parte das flores das couves e dos nabos servidos bem cozidos. Eles tem um sabor ligeiramente amargo (dependendo do preparo, um pouco mais, ou um pouco menos) e eu poderia chutar que ajudam na digestão – pelo amargor, cor, e por sempre acompanharem os pratos mais pesados como as proteínas.
No dia seguinte acordamos com calma e saímos do hotel quase na hora do almoço. Fazia um friozinho mas o céu estava um azul TÃO lindo! Pegamos a estrada e paramos em Sabrosa para almoçar. Comemos o prato típico da região e daquele restaurante (Solar 1) – joelho de porca. Confesso que fiquei meio receosa de não gostar muito e acabei pedindo também um arroz de polvo. Resultado: o joelho estava simplesmente incrível e o arroz, meio sem graça. Óbvio que saí muito do meu normal durante a viagem, em termos de alimentação, mas a parte boa é que as refeições eram basicamente proteínas e vegetais – ou seja: super equilibradas. Eu me perdi mesmo foi nos doces (especialmente nos pastéis de nata) :P. A sobremesa aqui foi Leite Creme – uma versão portuguesa do Crème Brûlée, mas que leva amido (o sabor até lembra ligeiramente um arroz doce). Ou será que o Crème Brûlée é que é uma versão francesa do Leite Creme? Bom, seja como for, é uma delícia.
Saímos de lá e seguimos viagem. A próxima parada foi uma das vistas mais lindas do percurso. Foi uma das indicações de vocês, inclusive. O Miradouro do Ujo fica em São Mamede de Ribatua, de super fácil acesso. Não tem nenhum comércio ou cidade super perto, mas vale super a pena ir!! No percurso também paramos em Amarante – uma cidadezinha muito simpática, amei ter conhecido; e em Pinhão para apreciar a vista da Quinta do Bonfim (foto em que estamos nós 4).
A FRANCESINHA
Depois pegamos o estrada de volta pra Porto e fomos direto jantar um prato típico. A “francesinha” é aquele típico sanduíche que a gente faz com tudo que está sobrando na geladeira, mas, nesse caso, não é qualquer sanduíche; ele é considerado um dos 50 melhores do mundo. Sua receita mais popular usa fatias grossas de pão de forma recheadas de presunto (fiambre), linguiça, salsicha, bife e queijo, coberto com mais queijo, levado ao forno para derreter e por último é adicionado um molho levemente picante a base de tomate e geralmente servido com batata frita – é uma bomba, mas é gostoso! haha
Pesquisando, vi que são muitas as histórias sobre a criação do prato, mas a principal delas é de que a Francesinha teria surgido pelas mãos do português Daniel David Silva, que, depois de ter passado um tempo como imigrante na França, se inspirou nas receitas de “croque-madame” e “croque-monsieur” para criar o sanduíche. Ele teria adaptado o prato ao gosto local e, com isso, teria criado o famoso molho levemente apimentado. Já o nome, aparentemente veio da afirmação de Daniel de que: “A mulher mais picante que conheço é a francesa”. Achei engraçado!
Tentamos comer Francesinha no Brasão Coliseu, que dizem ser muito bom, mas estava lotado (meu namorado foi e disse que vale a pena conhecer!) então acabamos comendo no Café Santiago da Praça. Eu amei e todo mundo disse que estava incrível comparado a outros que já comeram. Então, na dúvida, comam por lá! Finalizamos a noite com um passeio pelo centro histórico e paramos brevemente num lugar que me deu muita vontade de conhecer (esse da foto abaixo) – o Hotel The Zero e o restaurante Carniceiro (que fica lá dentro).
GUIMARÃES, BRAGA E BROA DE MILHO
No domingo tínhamos um aniversário para ir em Braga, então resolvemos almoçar em Guimarães, que é uma cidade situada no distrito de Braga e é a cidade mais histórica de Portugal (referida como o local de nascimento) e foi tombada como Patrimônio Mundial da Unesco. Certamente, sua extensa história reflete na variedade de monumentos nacionais e edifícios históricos que você vai encontrar na cidade. Eu amei! Me lembrou bastante as cidadelas que costumávamos visitar quando morei na Itália.
Almoçamos em um restaurante chamado Paraxut, que fica num largo muito simpático, com uma atmosfera super acolhedora. Os meninos pediram uma carne na chapa e eu e a cunhada pedimos o melhor bacalhau que eu já comi na vida! O típico Bacalhau com Broa (sugestão da cunhada) – tão, mas tão bom, que eu escrevi para uma amiga em Portugal e pedi a receita pra poder passar pra vocês (postei no instagram e, se quiserem, posso postar aqui também – me avisem 😉 ).
Antes de seguir para Braga, paramos no Miradouro da Penha, que tem um teleférico para facilitar o acesso, e um santuário lindo lá em cima. Não tiramos muitas fotos – apesar da vista linda – mas coloquei vídeos no stories do instagram (está nos destaques).
Depois seguimos para o aniversário do vô do Duarte – marido da minha cunhada – em Braga, que é uma cidade conhecida pela herança e eventos religiosos. Não chegamos a passear muito por lá, então não posso opinar sobre a cidade, mas a verdade é que ter ido a uma típica festa de família portuguesa acabou sendo uma das melhores experiências da viagem. A família se encontrou para preparar as comidas juntos e fizeram inúmeros pratos regionais. Foi muito legal! A atração da festa foi a matriarca do evento preparando sua famosa broa de milho. Eu fiquei observando e me pedi para ajudar a modelar o “pão”. Ela imediatamente respondeu: “NÃO!” sem hesitar! hahaha mas depois me autorizou e eu moldei uma das broas (o vídeo está aqui no instagram). As broas foram assadas no forno a lenha e ficaram realmente bem gostosas. Encontrei uma receita que me parece com a que ela fez nesse link aqui – provavelmente tem alguma diferença, afinal, receita de vó é tipo: um punhado, uma pitada, e assim vai hehe mas acho que vale a pena experimentar.
ENFIM, PORTO
Por fim, deixamos os últimos dias para conhecer o centro histórico de Porto. Não entramos em muitos museus, galerias, etc. Como era uma viagem de férias, focamos em realmente descansar. Andamos bastante pelo centro, que é encantador. O ponto central da cidade do Porto é a Avenida dos Aliados. Esse é o típico passeio “city tour” em que os turistas admiram as construções e estátuas. A Avenida é bem larga e o passeio a pé fica mais fácil de ser feito. Mas eu devo confessar que eu gostei mesmo foi das ruas mais estreitas. Minhas preferidas foram: Rua das Carmelitas, Rua de Cândido dos Reis, e as ruazinhas ali perto da Praça D. Filipa de Lencastre (especialmente a Rua da Picaria).
Dois lugares dessa região que acabamos não entrando, mas que minha cunhada disse que são muito legais: Livraria Lello e Irmão e Torre dos Clérigos. A livraria Lello inspirou J.K. Rowling a escrever histórias de Harry Potter. Fundada em 1881 e possui uma arquitetura diferenciada no estilo neogótico e, na parte interna, tem escadas circulares e paredes atoladas de livros de Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga, entre outros. Geralmente tem uma fila grande pra entrar. Já a Torre dos Clérigos é um dos pontos turísticos mais importantes da cidade do Porto. Pra quem gosta de apreciar uma vista panorâmica, dá para subir até o topo da torre em visitas livres ou guiadas.
Outros lugares legais que conhecemos: Bar Selina, que fica no centro de um hostel (esse da foto com lampadas suspensas), Bar Base (não tem foto) que fica ao lado da Torre dos Clérigos, e a famosa loja d’O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa.
Um dos passeios mais legais foi conhecer o Cais da Ribeira e a orla do Rio Douro, ali perto do centro histórico – o rio é o terceiro mais extenso da Península Ibérica e atravessa 11 cidades entre Portugal e Espanha. Algumas empresas oferecem o passeio de barco (inclusive privativo) pelo rio. Nós não fomos, mas deve ser super legal.
Se você quer agitação, o Cais da Ribeira me pareceu um lugar bem divertido. Com vários restaurantes, bares e cafés cheios de turistas e moradores locais. É um lugar mais “comercial”, mas é bem gostoso. Estando no Cais dá para ter uma vista boa do rio Douro e de parte do bairro. A tradicional queima de fogos de Ano Novo em Porto acontece por lá.
Ir até Portugal e não provar um vinho é não ir até Portugal. Se você não tiver a oportunidade de fazer o passeio pelo Vale do Douro, como fizemos, vale a pena conhecer alguma das Caves ali no Cais da Ribeira mesmo. Dá para fazer degustação de vinhos e conhecer sobre o processo de armazenagem dos vinhos.
Por fim, meus dois lugares preferidos (acho que pela vista, ou talvez pela atmosfera) foram: Praia da Luz, em Matosinhos (sentamos no bar à beira mar, maravilhoso), e o Palácio de Cristal e seus jardins – que, na verdade, não é um Palácio de Cristal e sim um pavilhão de eventos esportivos chamado Pavilhão Rosa Mota.
Óbvio que fui procurar a história e vou fofocar aqui com vocês porque achei interessante hahaha A história é a seguinte: O Palácio foi inaugurado em 1865 pelo Rei D. Luís com o intuito de acolher a Exposição Internacional do Porto, com mais de 3.000 expositores, e a visita oficial do Rei, de Dona Maria Pia e do príncipe herdeiro. Além de ter sediado outras exposições, o Palácio serviu como um importante espaço de cultura, recebendo concertos de grandes nomes da música clássica. Em 1951 o Palácio foi destruído para dar origem a um pavilhão esportivo, com o pretexto do Campeonato Mundial de Hóquei em Patins. A população sempre se revoltou por sua destruição, então até hoje ele continua sendo chamado de Palácio de Cristal, mesmo não sendo um palácio, e nem feito de cristal.
Os jardins do Palácio de Cristal foram abertos em 1860 e ainda preservam um clima super romântico. Caminhando por lá, você vai encontrar um lago, fontes, flores e árvores variadas, e até uma biblioteca pública muito moderna. Cada jardim conta com um nome e temática, e a cada estação do ano o jardim se transforma, parecendo outro. Mas o que mais gostei mesmo foi da vista que se tem da cidade e do Rio Douro. É um passeio muito gostoso!
Por fim, e não menos importante, os lugares/coisas que mais gostei de comer nesses últimos dias:
Café Majestic – Me lembrou muito a confeitaria Colombo, no Rio. É um café centenário (dos anos vinte), da época dos artistas e escritores – a Belle Époque – e fica em uma rua de onde não entram carros, repleta de lojas, onde a alta sociedade costumava passear. O imóvel é lindíssimo e foi tombado como patrimônio em 1983. Nós pedimos uma salada de salmão defumado, o hambúrguer e um sanduíche de salmão – estava tudo maravilhoso, mas a estrela da vez foi mesmo a clássica rabanada da casa. Foi a melhor que já comi na vida. Macia por dentro, crocante por fora, feita com um pão tão leve que desmancha na boca, acompanhado de um creme de gemas doce na medida certa. Minha boca encheu d’água só de lembrar (alguma dúvida de que vou TER QUE testar mil receitas até conseguir replicar? hehe). Já nem lembro quais outras sobremesas pedimos (mentira! Pedimos um bolo de cacau e uma torta de maçã, mas vai por mim: troque tudo por rabanada)
Tascö – é um restaurante de comida mediterrânea/portuguesa. Esse foi escolha/surpresa do namorado, e foi meu lugar preferido de toda a viagem (exceto pela rabanada hahaha). Antes de mais nada, acho válido explicar que “Tasca” é o nome que os portugueses dão a pequenos restaurantes – geralmente familiares – que servem comidas tipicamente portuguesas e que não se rendem às modernidades, prezando pela tradição e qualidade da comida lusitana. Portanto, o Tascö já começa “quebrando tradições” desde o nome. O lugar é tipo “uma releitura de tasca” com decoração completamente moderna e cardápio meio gourmetizado (com excelência). O serviço é bem jovial, simpático, e super atencioso. Nos explicaram com calma cada prato, ajudaram na escolha da bebida, passavam sempre perguntando se estava tudo certo e não esqueceram de nos chamar pelo nome uma só vez.
A promessa é comida caseira, bem feita, para partilhar. Nos sugeriram a combinação de 2 “principais” e 3 acompanhamentos. Assim fizemos! Pedimos o ceviche de salmão (que estava simplesmente perfeito), a costelinha ao molho barbecue (cozida por 12 horas e acompanhada de picles), a vitela com purê de batatas trufado (delicioso), o esmagado de batatas com azeitona, e o espinafre com nata (sensacional). De sobremesa pedimos “Maria Francisca” – uma cheesecake de avelã com cobertura de nutella caseira e crocante de avelãs, e “A preferida da Mariana” – um bolo de tâmaras com calda de whisky, gelado de iogurte natural e favo de mel que é simplesmente perfeito! Se estiver em busca de uma experiência gastronômica por lá, eu super indico!
Pipocar – não poderia deixar de indicar também as pipocas que minha cunhada faz, e que me deixam com desejo só de lembrar. Se você mora em Portugal ou está indo a passeio, já encomende a sua (para você ou para sua empresa), que você não vai se arrepender! Foi simplesmente a melhor pipoca doce que eu já comi na vida. Minha preferida foi a sabor Tarte de Limão – que é uma sobremesa bem comum por lá – e é feita com chocolate branco, biscoito amanteigado e raspas de limão. Mas a de nutella e a de paçoca também são imperdíveis! Experimente e depois me conte 😉
Bom, acho que é isso! Espero que tenham gostado desse post mais descontraído. Qualquer dúvida ou comentário, é só me escrever. Vou adorar saber o que achou dessa viagem e das dicas! Beijão
Eu sou a Gabi ? Sou arquiteta urbanista e metida a cozinheira! Desde que resolvi entrar no mundo do esporte, mudei minha alimentação e, consequentemente, meu olhar sobre o mundo e sobre o meu corpo. Hoje sou maratonista, me locomovo principalmente de bike, não consumo carne há três anos, intolerante à lactose, e vivo inventando moda na cozinha, onde aprendo muito todo dia