Intestino e saúde ou Intestino é saúde?
Apesar da brincadeira boba (não pude resistir! hehe), é impossível falar de saúde sem falar de intestino, afinal, ao longo do intestino acontece o processo de triagem mais importante do organismo, além de ser um órgão endócrino (produtor de hormônios) de ligação direta com o sistema nervoso por ter milhões de neurônios, tanto que é considerado o segundo cérebro. Ou você pensou que era apenas coincidência o péssimo humor quando o intestino não funciona adequadamente?
As células do intestino estão organizadas uma ao lado da outra de forma bem “apertadinha”, impedindo que pequenas partículas de alimentos (especialmente proteínas) ou de bactérias (LPS) consigam passar entre elas, dessa forma tudo que é absorvido precisa passar por dentro das células como uma triagem, com ou sem gasto de energia. A integridade dessa barreira é influenciada por diversos fatores, dentre eles a composição da microbiota intestinal, ou seja, o balanço de micro-organismos “do bem” (probióticas) e “do mal” (patogênicos) residentes no intestino, que por sua vez são modulados pelos hábitos alimentares e estilo de vida.
Por ser um tecido em atividade intensa e constante, as células e a microbiota intestinal são renovadas a cada 3 dias; o que por um lado é positivo, pois nesse pouco tempo já é possível perceber alterações favoráveis; mas por outro lado, deve ser constantemente cuidado, pois em pouco tempo alterações negativas também podem ocasionar sintomas.
Por isso não existe sentido no “dia do lixo” ou “férias da dieta”, mas sim em mudança de hábitos alimentares, sem terrorismo ou montanha russa de consumo alimentar com variação do junk-food à restrição alimentar.
Quer saber como manter o balanço de bactérias favorecendo para as “do bem”? É muito simples: desembale menos e descasque mais! Não tem segredo, as bactérias patogênicas (as malvadinhas) são favorecidas com o consumo de açúcares, farinha branca, excesso de proteínas(!!!), adoçantes, corantes e outros aditivos alimentares enquanto que as bactérias “do bem ♥” se alimentam especialmente das fibras e amido resistente presentes nos vegetais, raízes, castanhas, grãos e cereais; simplesmente a base da alimentação vegetariana de qualidade (muito amor! hehe).
No entanto, a saúde intestinal é um exemplo clássico de que nem sempre a alimentação do vegetariano é mais saudável do que do onívoro (consome todos os grupos alimentares), infelizmente a falta de informação faz com que algumas pessoas substituam os produtos de origem animal por produtos de panificação ou de pacotinho como salgadinhos e outras guloseimas 🙁 . Em pouco tempo o corpo começa a dar sinais como canseira excessiva, dificuldade de raciocínio, distensão abdominal e alterações de humor, fatores que estão associados com o desequilíbrio da saúde intestinal decorrentes do consumo alimentar inadequado (preste atenção nisso e divulgue essa informação! 😉
O que acontece é que o consumo desequilibrado favorece as bactérias “do mal”, que por sua vez fazem com que a junção entre as células do intestino fiquem frouxas e possibilitem a entrada de partículas dessas bactérias (LPS) e de alimentos mal digeridos (normalmente proteínas) para a corrente sanguínea, onde são reconhecidas pelo sistema imune como corpos estranhos, desencadeando o recrutamento de células do sistema imune para resposta de combate. Esse recrutamento de células do sistema imune sobrecarrega o organismo e instala quadro de infecção e inflamação crônica de baixo grau (aumento de anticorpos e citocinas inflamatórias), que dificulta o emagrecimento, aumenta o risco de acumular gordura no fígado, de desenvolver câncer e outras doenças auto-imunes. O cérebro esta conectado ao intestino com milhões de neurônios (falei disso lá no começo), além disso, alguns compostos inflamatórios podem ultrapassar a barreira hemato-encefálica (a proteção do cérebro) atingindo o cérebro com neuro-inflamação, que por sua vez esta associada com doenças neuro-degenerativas, fadiga, ansiedade, melancolia, depressão e outras desordens psíquicas (percebeu a razão do péssimo humor quando o intestino vai mal?).
E tem mais, a microbiota saudável potencializa a absorção de nutrientes em geral (vitaminas e minerais) e a síntese de algumas vitaminas no próprio intestino, enquanto que a microbiota “do mal” dificulta a absorção de nutrientes e não produz essas vitaminas.
Ou seja, cuide do seu intestino para ter saúde, bem estar e qualidade de vida!!! Como fazer isso? Dando preferencia para alimentos frescos ou minimamente processados (grãos, tofu) e evitando os empacotados de qualquer tipo, especialmente os ultra-processados. Fim! 😉
Referências
- Chassaing B, Etienne-Mesmin L, Gewirtz AT. Microbiota-Liver Axis in Hepatic Disease. Hepatology. 2014 January ; 59(1): 328–339. doi:10.1002/hep.26494
- Kelly JR, Kennedy PJ, Cryan JF, et al. Breaking down the barriers: the gut microbiome, intestinal permeability and stress-related sychiatric disorders. Frontiers in Cellular Neuroscience. October 2015, Volume 9
- Liu X, Cao S, Zhang X. Modulation of Gut Microbiota−Brain Axis by Probiotics, Prebiotics, and Diet. Agric. Food Chem. 2015, 63, 7885−7895
Eu sou a Gabi ? Sou arquiteta urbanista e metida a cozinheira! Desde que resolvi entrar no mundo do esporte, mudei minha alimentação e, consequentemente, meu olhar sobre o mundo e sobre o meu corpo. Hoje sou maratonista, me locomovo principalmente de bike, não consumo carne há três anos, intolerante à lactose, e vivo inventando moda na cozinha, onde aprendo muito todo dia